Schneider aposta no uso eficiente de energia

September 26, 2012 | Categoria: Energy

Por Deborah Kan | The Wall Street Journal

Comandar uma empresa de gestão de energia não depende só de conhecer a malha elétrica e entender de interruptores.

Jean-Pascal Tricoire, diretor-presidente da Schneider Electric, que fornece produtos para reduzir o consumo de energia, supervisiona mais de 130.000 funcionários em mais de 100 países. Nessa escala, conectar pessoas é tão importante como conectar os fios.

A Schneider Electric, que tem valor de mercado de US$ 35 bilhões, dobrou de tamanho nos últimos 10 anos; mas recentemente a empresa suspendeu as aquisições, a fim de integrar outras firmas que adquiriu no mundo todo, da Índia até o Brasil. "O setor de energia vai passar por uma transição tremenda nos próximos anos," diz Tricoire.

O executivo, de 48 anos, mudou-se há pouco tempo de Paris para Hong Kong, sobretudo porque a região da Ásia e Oceania é a que mais cresce para os negócios da Schneider Electric. O The Wall Street Journal conversou com Tricoire em Hong Kong sobre as rápidas mudanças na economia global e seu otimismo sobre a China, que continua firme apesar da desaceleração do país.

Aqui, trechos editados:

WSJ: Vemos uma situação péssima na Europa, baixo crescimento nos Estados Unidos, e agora o crescimento da China está começando a declinar. Que impacto isso exerce sobre suas atividades?

Jean-Pascal Tricoire: Em retrospecto, nos últimos três anos foi muito bom ser uma empresa global. A América do Norte está se recuperando e crescendo; a Europa está dividida em dois, com o norte não tão mal e o sul sofrendo o impacto da crise da dívida.

A Ásia tem tido baixo crescimento este ano, atingida pela desaceleração na China. Mas é preciso ver as coisas em perspectiva. As pessoas se esquecem do crescimento muito forte que houve na Ásia nos últimos anos.

WSJ: O sr. pode falar, especificamente, sobre como a desaceleração na China está prejudicando o crescimento dos seus negócios?

Tricoire: A China reduziu seus negócios conosco nos últimos dois trimestres, mas vendo com uma perspectiva de três anos, ela teve um crescimento incrível. Na verdade, nós dobramos o tamanho da Schneider [na China] com muitos investimentos feitos nos últimos anos.

O grande pacote chinês de estímulo de 2009 criou muitas oportunidades para investimentos, construção e grandes obras de infraestrutura. Estamos agora num período de adaptação, mas sou otimista quanto à China. O país tem um plano muito ambicioso de eficiência energética e está construindo as maiores cidades do mundo. Eles querem cidades "inteligentes", e precisam da nossa tecnologia.

Estamos na China há 25 anos e planejamos continuar lá pelos próximos 25. Tudo isso exige muito recrutamento de pessoal, treinamento profissional e desenvolvimento de novos negócios.

A eficiência energética é uma parte importante do plano quinquenal da China. Há infraestrutura inteligente, cidades inteligentes, de modo que não se muda de estratégia nem de investimentos a cada trimestre. Provavelmente vamos reduzir um pouco alguns investimentos, mas [...] continuaremos a investir no longo prazo.

WSJ: Além da China, que países o sr. espera que serão áreas de alto crescimento nos próximos anos?

Tricoire: Temos 40% dos nossos negócios em economias em rápido crescimento e, sinceramente, creio que todas elas têm um potencial muito grande. Estamos falando da Ásia, mas também poderíamos falar da África, que tem uma demografia muito forte. Poderíamos falar do Oriente Médio, que está se desenvolvendo apesar de todo o tumulto. A América Latina tem sido um lugar excelente para todas as nossas tecnologias e está se desenvolvendo muito rápido. A Europa Oriental e a Rússia também têm sido regiões de crescimento.

WSJ: O sr. se mudou para Hong Kong há um ano. Sendo diretor-presidente global, por que tomou essa decisão?

Tricoire: Fiz isso porque a região da Ásia e Oceania gera 30% dos nossos negócios, e é a região onde eles mais crescem. Eu queria que minha equipe, e eu mesmo, estivéssemos mais próximos desses clientes e também dos nossos funcionários na Ásia. A Schneider tem uma liderança multipolar, porém toda conectada, sendo um terço nas Américas, um terço na Europa e agora um terço na Ásia.

WSJ: Em termos de gestão, como o sr. consegue acompanhar os negócios em mais de cem países?

Tricoire: A Schneider Electric é uma empresa orientada para as pessoas; assim, fazemos questão de ficar conectados. Eu viajo muito. A tecnologia está dando uma enorme ajuda. Podemos ser totalmente móveis e usar as redes sociais para a gestão do conhecimento. É muito mais fácil administrar comunidades transversais do que era há 10 ou 15 anos.

WSJ: Falando como uma pessoa do setor de energia, qual é a sua opinião sobre o futuro da energia limpa? Que tipo específico de energia o sr. acha que vai levar o mundo para a próxima fase?

Tricoire: Com a convergência de tecnologias de energia, pode-se obter informação em tempo real sobre o consumo de energia. As pessoas falam muito em energia limpa, em energias renováveis, mas hoje onde vemos o maior potencial é na nossa habilidade de não consumir energia. Cada um de nós estará conectado à sua [fonte de] energia tanto quanto estamos conectados aos nossos celulares. O mundo vai estar todo conectado, o mundo vai ser digitalizado, e a Schneider Electric será uma das principais pioneiras nesta transição.