Petróleo e eólica alavancam indústrias no RS

July 03, 2014 | Categoria: Energy

Redação AECweb

 

“Embora o Rio Grande do Sul apresente desvantagens competitivas em relação a outros estados do Brasil, em especial as deficiências de infraestrutura e demora na liberação de licenças ambientais, a implantação de novas fábricas é causa e consequência do desenvolvimento econômico do Estado”. O comentário é de Julio César Lamb, membro da Comissão de Obras Públicas e Privadas do SindusCon-RS, diante do crescimento de obras industriais no território gaúcho. De acordo com a Rede de Obras – ferramenta de pesquisa do portal AECweb -, o Rio Grande do Sul lidera o ranking da região sul do país com 140 obras industriais e outras cinco do segmento de usinas de bioenergia. O Estado de Santa Catarina vem em segundo lugar com 113obra de indústrias e seis usinas, seguido pelo Paraná com 100 projetos industriais e sete usinas.

Para o empresário Pedro Tedesco Silber, também membro da comissão, a construção industrial no Estado é historicamente cíclica. “A produção industrial gaúcha se caracteriza por regiões, como a metal-mecânica, na região da serra e a calçadista na região dos Sinos, e pela vulnerabilidade cambial. Agora, no entanto, passamos a ter uma indução do crescimento na chamada metade sul do Estado, tradicionalmente mais deprimida economicamente. Essa expansão se deve, principalmente, à implantação do Pólo Naval em torno da cidade de Rio Grande, que vai produzir cascos e plataformas para a Petrobras”, afirma. 

Julio Lamb é enfático ao dizer: “Parece-me que tudo aponta para o Sul”. Porque, além do investimento puxado pela Petrobras, estão em construção – e outros licitados - parques eólicos que aproveitam as condições climáticas e o regime de ventos da região sul, ideal para a geração de energia eólica. Esse será, segundo ele, um bom exemplo de cluster, pois ali poderão se instalar empresas produtoras de componentes para a fabricação de aerogeradores. “Outro vetor importante de crescimento é o complexo automotivo da GM, que tem fábrica desde 1998, em Gravataí. Mais recentemente, também na região metropolitana de Porto Alegre, se observa o surgimento de um pólo de tecnologia na área de semicondutores e de softwares”, relata Tedesco. Além disso, há previsão de retomada das obras da antiga Aracruz, hoje denominada Celulose Rograndense, cujo investimento em  Guaíba será de bilhões de dólares, informa Lamb.

No norte do Estado, predominam a cultura de soja voltada para as usinas de biodiesel e a produção leiteira, que serve às fábricas de leite em pó e derivados, destinadas ao atendimento do mercado chinês. “A fábrica de CCGL, por exemplo, construída em Santa Rosa,  produz leite em pó exclusivamente para exportações para a China através do porto de Rio Grande. Hoje, existe o risco de faltar soja para atender a demanda das usinas de biodiesel instaladas no estado”, destaca.

Julio César Lamb comenta que a falta de mão de obra necessária à produção de obras em geral, associada ao prazo exíguo das obras industriais resulta na necessidade de industrialização das construções e uso intensivo de equipamentos em substituição ao homem. “Está havendo uma mudança nos processos produtivos, levando à crescente racionalização dos canteiros, ao uso de elementos pré-fabricados e intensificação do uso de máquinas e equipamentos”, entende  Lamb. 

Atuando no segmento de obras industriais e corporativas, Pedro Tedesco confirma que a tendência é a busca por soluções que reduzam a incidência de mão de obra direta nos canteiros, com os pré-fabricados de concreto e estruturas metálicas. “Além dos cuidados com o projeto e a obra sob o aspecto da sustentabilidade, com destaque para a maior eficiência energética dos edifícios corporativos e industriais, as empresas agora estão preocupadas em proporcionar condições de trabalho mais agradáveis e humanas aos seus trabalhadores. Não adianta a empresa ser eficiente da porta para fora, mas é fundamental dar condições de bem-estar para quem faz a empresa acontecer de fato, que são as pessoas”, ressalta Tedesco.

“A construção civil também está atrasada em relação a outros setores da economia na utilização da Tecnologia da Informação. Este deve ser um fator determinante no aumento da capacidade instalada das empresas construtoras nos próximos anos”, complementa Lamb.

O FUTURO

 


Os empresários são unânimes em relação ao crescimento do segmento de obras industriais no Estado, em 2012. Para Julio César Lamb, é preciso considerar que a ampliação da capacidade instalada de qualquer setor somente acontece quando a capacidade instalada existente está acima de 85%. “Dados econômicos recentes estão indicando que a ociosidade industrial está aumentando, e a capacidade instalada, embora ainda maior do que 80%, está em declínio”, diz, acrescentando: “A economia do Rio Grande do Sul está atrelada à economia do Brasil e do mundo, e seu PIB muito atrelado à exportações, tanto de produtos primários como industriais. O agravamento da crise na Europa e, na sua esteira, a redução da atividade econômica na China deve enfraquecer o crescimento industrial do Estado, assim como do Brasil.  Se mantidos os investimentos da Petrobras, a implantação do pólo naval se sustenta.  Se confirmado o investimento de Celulose RioGrandense, a atividade de construção industrial terá novo empuxo com reflexos em toda a cadeia. A expectativa, de modo geral, continua sendo boa”, prevê. Ele comenta, ainda, que “se tivermos crescimento de 3% este ano e pouco abaixo de 5% em 2012, já estaremos operando no limite da soma da capacidade da força de trabalho do Brasil”.