Reajuste da energia eleva as expectativas de inflação

April 25, 2014 | Categoria: Energy

O mercado financeiro já prevê que a inflação vai superar o teto da meta e fechar em 6,51% neste ano, de acordo com a Pesquisa Focus desta semana, feita pelo Banco Central (BC) junto a cerca de 100 instituições financeiras e consultorias.

Depois da alta dos alimentos provocada pela seca, agora é a energia elétrica que está pressionando as expectativas. Desde o início do mês, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou reajustes das tarifas de energia elétrica de 14 distribuidoras, todos acima dos 9,5% esperados pelo Banco Central na mais recente ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do início do mês.

Os aumentos mais baixos autorizados para os consumidores residenciais variam de 11,01% no caso da Cosern, do Rio Grande do Norte, a 11,16% da Cemat, de Mato Grosso, cada uma com 1,2 milhão de clientes, e 11,83% da Energisa (SE). Na faixa mais elevada estão os reajustes de 28,86% da AES Sul, com 1,3 milhão de consumidores no Rio Grande do Sul e 35,33% da cooperativa Cercos (SE).

O reajuste de distribuidoras com mais clientes ficou na faixa de 14%, caso da Coelba (BA), de 14,82% e 5,4 milhões de consumidores; e da Cemig, com 7,7 milhões e 14,3% de reajuste autorizado, bem abaixo dos 29,74% pedidos.

As indústrias não ficaram de fora da onda de aumentos, em geral maiores, variando de 11,31% na Energisa (SE) a 35,28% na Cercos (também SE), 35,7% na Nova Palma (RS) e 37,17% na Cerpro (SP). Certamente as empresas vão repassar esse aumento de custos para seus produtos, alimentando mais a inflação.

Os aumentos não terminam por aí. Estão no calendário de reajuste algumas das maiores distribuidoras do país, como a Eletropaulo, Light, Copel e Celesc. Os aumentos são motivados pela compra de energia de fontes mais caras, as térmicas a diesel por exemplo, em razão da menor oferta das hidrelétricas por causa do esvaziamento dos reservatórios provocado pela escassez de chuvas; compra de energia nova no mercado de curto prazo e, no caso das empresas que distribuem a energia de Itaipu, impacto da variação cambial.

Os preços dos alimentos podem até ceder ao longo do ano, e é esperado que isso ocorra por causa da sazonalidade da agricultura, mas isso não deve acontecer com a energia elétrica. Na verdade, neste momento, as distribuidoras estão acumulando dívidas que vão se transformar em tarifas mais elevadas nos próximos anos.

Os reajustes agora concedidos são por conta de aumentos passados de custos das distribuidoras, que o governo quis segurar para manter a promessa da presidente Dilma Rousseff de que a conta de luz ficaria 20% mais barata em 2013. Parte disso o Tesouro absorveu e parte está sendo repassada agora. A energia elétrica residencial acabou ficando 15,66% mais barata no ano passado, quando o IPCA subiu 5,91%.

No entanto, a pressão de custos na área de energia continua - e até se agravou neste ano. Como o Tesouro não pode bancar as despesas para não desmanchar de vez as contas fiscais, arquitetou o financiamento que será concedido por um pool de bancos à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e transferido às distribuidoras para cobrir as despesas extras.

O financiamento e seus encargos serão repassados para as contas de energia a partir do próximo ano. Inicialmente, a ideia era diluir o repasse em dois anos. Agora já admite que deve ser feito no prazo do empréstimo. Mas não se sabe o prazo nem os juros que serão cobrados.

Nem o valor da operação está fechado. Começou em R$ 8 bilhões e passou para R$ 11,2 bilhões. Agora se sabe que as distribuidoras vão precisar de R$ 4,7 bilhões para pagar a fatura de fevereiro, depois de terem gasto R$ 1,2 bilhão em janeiro. O governo conta com preços menores para a energia nos próximos meses, mas essa é uma expectativa apenas. Um ponto importante nessa equação será o resultado do leilão de energia A-0, a ser realizado no dia 30, que vai influir nos custos das distribuidoras e determinar o tamanho do empréstimo dos bancos.

 

Com tantos pontos em aberto, não é de se estranhar que o mercado revise suas expectativas para cima. O problema é ainda maior porque não só a energia elétrica está com os preços represados, mas a gasolina e o transporte público entre outros, e o governo insiste em desafiar a regra de que pode-se arriscar a controlar alguns preços por algum tempo, mas não muitos preços o tempo todo.

Valor Econômico