Setor térmico precisa de planejamento mais claro para poder crescer

April 24, 2014 | Categoria: Energy

Mauricio Godoi, da Agência CanalEnergia, de São Paulo, Planejamento e Expansão 

As perspectivas para o segmento térmico para os próximos cinco anos são pessimistas. A falta de um planejamento mais detalhado para as usinas, a demonização da fonte associada à política de comprovação de combustíveis por empreendimentos a gás e, principalmente, o preço teto que vem sendo estabelecido, tem tirado o apetite dos investidores.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas, Xisto Vieira Filho, a situação pela qual o país passa somente confirma a necessidade de que esse quadro precisa ser alterado. Ele lembra que o sistema elétrico brasileiro é hidrotérmico, e é assim porque o Brasil tem forte dependência das chuvas. Para compensar essa dependência de fatores climáticos, aponta o executivo, está a fonte termelétrica por seu atributo de poder gerar energia sempre que necessário.

"Podemos atestar a importância das térmicas pelo fato de que mesmo com o atual cenário de poucas chuvas estamos conseguindo, a duras penas, salvar o sistema interligado nacional por conta das termelétricas", ressaltou o presidente da Abraget. A discussão sobre as térmicas fará parte da 11ª edição do Encontro Nacional dos Agentes do Setor Elétrico, que acontece nos dias 6 e 7 de maio, no Rio de Janeiro, e tem como tema "Setor Elétrico Brasileiro - uma visão 2014/2019". O Enase é copromovido peloGrupo CanalEnergia e 16 associações representativas do setor.

Outro problema que ainda precisa ser combatido é o problema do combustível das usinas a gás. Segundo Xisto Vieira Filho, a comprovação de fornecimento do combustível é uma equação complicada e difícil. Segundo ele, o GNL deveria ter a curto prazo um tratamento especial. Inclusive, daria para até para colocar o combustível no leilão agendado para setembro deste ano, o que daria melhores perspectivas para investimentos nas centrais térmicas.

O maior argumento contrário à fonte, que é o impacto ambiental, é minimizado pelo presidente da Associação Brasileira de Geração Flexível, Marco Veloso. Segundo dados da entidade, por exemplo, uma planta a óleo emite na faixa de 700 a 800 quilos por MWh gerado. Já uma planta a gás natural a ciclo combinado fechado chega a 300 quilos. Acontece que, continuou ele, uma usina a gás gera de 60% a 70% do tempo em condições normais e a óleo só irá gerar, desde que o sistema elétrico esteja equilibrado - o que não é o caso do Brasil em 2014 -, entre 15% e 20% do tempo. Sendo assim, o gás acaba emitindo mais que óleo.

O presidente da Abraget complementa ao reconhecer que as usinas com reservatórios e as térmicas de base têm atributos desfavoráveis do ponto de vista ambiental mas por outro lado são imbatíveis em relação a segurança elétrica e energética. Veloso lembrou que as térmicas são indispensáveis para a segurança do setor elétrico. A parcela de usinas flexíveis, reconhece ele, é pequena, mas é importante para que o Operador Nacional do Sistema Elétrico possa modular o SIN conforme é sonhado pelo órgão.

No caso das usinas térmicas a carvão mineral, o problema está na questão do ICB em comparação a outras usinas térmicas. De acordo com o presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral, Fernando Luiz Zancan, como o investimento em equipamentos é mais alto o problema é o índice custo-benefício que deveria ser mais bem calibrado para que o setor possa ser competitivo. Até porque o carvão é uma fonte que poderia gerar na base já que possui CVU mais baixo do segmento com usinas na faixa de R$ 60 por MWh.

 

De acordo com os cálculos da ABCM, se o país tivesse 1.000 MW de usinas a carvão no leilão de 2009, hoje poderia ter economizado cerca de R$ 500 milhões ao mês em relação a térmicas a óleo que hoje estão em operação. Apesar de o setor ser considerado com um dos principais para garantir a segurança energética, o problema, segundo Veloso, é que a fonte tem um caminho errático quando se olha para o planejamento "Uma hora o Maurício Tolmasquim é contra a térmica de forma não explícita. Mas não dá para ter visão de futuro com opiniões dessa natureza", destacou o executivo.