Esqueça os países: busque os setores na AL, indica Itaú BBA

January 21, 2014 | Categoria: Energy

Por Beatriz Cutait | De São Paulo

O Itaú BBA não está otimista com as perspectivas para as bolsas de países latino-americanos em 2014. Também pudera. O ano de 2013 não poupou nenhum dos mercados acionários que integram o MSCI LatAm - Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru - e o cenário continua desafiador, seja por razões macroeconômicas locais e externas ou por questões políticas. O investidor, contudo, não precisa desanimar. Ainda que as bolsas por si só sigam pouco atrativas, há boas oportunidades de retorno para este ano. Mas é preciso garimpar.

A corretora tenta desvendar onde estão as melhores oportunidades no "The LatAm Big Book 2014" e assinala que o aplicador não deve olhar de forma independente para os cinco países citados, mas analisar os setores.

É preciso ler com cuidado as 279 páginas do "grande livro" e não se deixar levar apenas pela classificação "overweight" (desempenho acima da média do mercado) para as bolsas de Brasil, Chile e Peru e "underweight" (abaixo da média) para Colômbia e México.

"Para esse ano, faz mais sentido olhar para setores e encontrar maneiras de se expor a histórias pontuais em que vemos mais valor", diz o coordenador do levantamento e estrategista-chefe do Itaú BBA, Carlos Constantini.

Este é o terceiro ano de publicação do livro do BBA. Constantini conta que, em 2012, a avaliação era de que temas globais, como uma possível ruptura da Europa, a crise americana e a desaceleração chinesa, deveriam movimentar os mercados acionários da região. Já no ano passado, as questões macroeconômicas saíram de cena e abriram espaço para uma maior relevância das regiões. "O call era de países", afirma o estrategista.

Agora, em meio à melhora da economia global, Constantini considera que os riscos já estão nos preços. E o que vale a aposta, num universo de 205 ações de empresas latinas avaliadas?

A preferência do Itaú BBA está nos setores de bancos e serviços financeiros e commodities. Os segmentos de telecomunicações, consumo, energia, "utilities" (serviços públicos) e "industrials" (que compreende empresas de bens de capital e transportes), por sua vez, têm recomendação "underweight".

Especificamente no Brasil, a escolha dentro da bolsa se sustenta em três pilares. O primeiro está vinculado a companhias com atividade fora do país ou que se beneficiam da desvalorização da moeda, como Vale, Suzano, Gerdau e Iochpe-Maxion. O segundo capta empresas mais defensivas, como Ambev e Ultrapar, menos sujeitas às oscilações econômicas por terem um balanço forte, uma demanda relativamente inelástica e um fluxo de caixa livre confiável. Nesse grupo ainda são incluídos papéis com casos particulares de desempenho, como da BB Seguridade, uma das "queridinhas" do mercado financeiro. E o terceiro e último pilar compreende o setor financeiro, com foco em grandes nomes como Bradesco.

Fora do Brasil, o portfólio do BBA ainda compreende as ações mexicanas de Alsea, Tenaris, Banorte, Cemex, Grupo México e Mexichem; as chilenas SACI Falabella, Embotelladora Andina, Santander Chile, LAN, Sonda e Endesa; a colombiana Sura; e a peruana Credicorp.

O reforço pelo chamado "stock picking" já foi bastante promovido ao longo de 2013, admite o estrategista do Itaú BBA. Mas, segundo ele, quem investiu de olho nos países, em temas macroeconômicos, também se saiu bem, o que não será suficiente para 2014.

Apesar da queda das bolsas latinas no ano passado, elas não estão baratas como um todo, diz Constantini, que chama atenção para os dados de lucro e geração de caixa muito menor que as previsões. E a revisão para baixo tende a persistir. "Estamos começando o ano com uma expectativa de crescimento de lucro em torno de 20% para as empresas brasileiras e acho que, ao longo de 2014, esses 20% vão virar 10%", antecipa.

O cenário negativo já leva em consideração a visão de uma fraca expansão da economia doméstica em 2014, de apenas 1,9% - menor taxa dentre os cinco países -, e também o efeito estatístico de uma revisão negativa de crescimento dos lucros de 2013.

Há ainda a comparação com o rendimento de títulos públicos, que torna a relação risco/retorno desfavorável para a bolsa. O Itaú BBA avalia que enquanto os juros reais não voltarem para um nível razoável será difícil imaginar os investidores retornando ao mercado acionário. A resposta para o que seria um cenário de taxas razoáveis não é tarefa simples, afirma o estrategista-chefe da corretora, mas ele está muito mais próximo de um nível entre 5% e 5,5% que de 7% ao ano.

"É fundamental que haja pelo menos a expectativa de fechamento de taxa para que o mercado de ações possa melhorar no curto prazo", comenta Constantini.

O apetite dos aplicadores internacionais também segue na berlinda. Ainda que os dados de fluxo estrangeiro tenham mostrado entrada líquida de recursos da ordem de R$ 11,7 bilhões na Bovespa em 2013, o estrategista assinala que o investidor global, que ficou exposto ao país por alguns anos buscando o mercado consumidor, ainda parece distante do Brasil.

"Hoje esses investidores começam a olhar para mercados emergentes com mais atenção, querendo ver se trazem o dinheiro de volta. Mas não nos parece que o Brasil detenha o maior apetite, porque não tem nem o 'valuation' descontado nem o crescimento", diz Constantini.

Nesse sentido, ele avalia que o México poderia estar na frente, mas, ao olhar para as oportunidades existentes na bolsa daquele país, o investidor pode ter que voltar os olhos para o Brasil, dada a magnitude muito maior de seu mercado. No horizonte de longo prazo, o Itaú BBA considera o mercado brasileiro mais atrativo que os pares latinos.

De volta a 2014, a corretora assinala que quatro temas tendem a dar o tom para as ações brasileiras e todos podem ter um efeito negativo sobre elas: o "tapering" (processo de redução do ritmo de compras de ativos pelo banco central americano); o menor crescimento da China e o rebalanceamento de sua economia, com um possível maior foco ao consumo doméstico; ruídos políticos em um ano de eleições presidenciais; e um ciclo de crédito próximo de seu pico.

O Itaú BBA aponta que, desde abril de 2011, o índice MSCI Brazil caiu 43%, mas a relação preço/lucro (P/L, que dá uma ideia de prazo para o investidor reaver a aplicação) para 12 meses permaneceu no nível de 10,2 vezes. "Do ponto de vista de 'valuation', os preços do país estão mais baixos, mas não baratos."