Areva quer crescer a partir de Angra 3

December 06, 2013 | Categoria: Energy

Por Rodrigo Polito | Do Rio

O contrato de € 1,25 bilhão (cerca de R$ 4 bilhões) assinado em novembro entre a Areva e a Eletronuclear para a conclusão do reator da usina de Angra 3 pode abrir caminho para a atuação da Atmea, joint-venture criada pelo grupo francês com a japonesa Mitsubishi, nos futuros projetos nucleares no país. A opinião é do diretor da Areva para a América do Sul, Bernard Bastide.

Sucessora da KVU, subsidiária da Siemens e responsável pelos projetos de Angra 2 e 3, a Areva fornecerá, além dos serviços de engenharia, os componentes e o sistema de controle e comando digital da terceira usina nuclear brasileira, de 1.405 megawatts (MW), em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Segundo Bastide, os contratos relativos às futuras usinas nucleares serão disputados pela Atmea, criada em 2006 em parceria com o grupo japonês.

"A experiência da Areva em Angra 3 pode trazer dois benefícios para a Atmea. Primeiro porque a Areva vai criar e manter a cadeia de fornecedores no Brasil. O segundo é que o sistema de controle digital da Areva é comum ao da Atmea", afirmou Bastide ao Valor. "Angra 3 está pavimentando o caminho para a Atmea", disse.

Apesar de o último Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), divulgado recentemente pelo governo, não prever novas usinas nucleares até 2022, além de Angra 3, o executivo disse estar confiante na construção de pelo menos quatro novas usinas do tipo antes de 2030. A expectativa é baseada na indicação que recebeu do secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho.

Bastide e representantes da Atmea se reuniram com o secretário na última semana, durante encontro sobre energia nuclear, em Recife (PE). Estiveram no evento o presidente da Atmea, Andreas Goebel, e o vice-presidente, Satoshi Utsumi.

A estratégia da Atmea é voltada principalmente para países emergentes, onde a perspectiva de crescimento do consumo de energia é maior, o que demanda usinas para operação contínua e com baixa emissão de gases poluentes, como a nuclear. "O consumo de energia no Brasil vai dobrar até 2022", ressaltou Bastide.

Segundo Goebel, em maio, a Atmea assinou acordo com o governo da Turquia para a instalação de quatro reatores nucleares naquele país. Contrato semelhante foi assinado com o governo do Vietnã. E a companhia também está em fase de pré-seleção na Hungria e na Eslovênia. Segundo o presidente da Atmea, a Malásia, que está em franco crescimento, também está interessada no reator da empresa.

De acordo com o executivo, a nova linha de reatores reforçou o conteúdo de segurança, adaptando normas pós-Fukushima. O reator, segundo ele, inclui proteção contra perigo extremo, como colisão de aeronaves comerciais. A medida foi adotada considerando os ataques terroristas às torres gêmeas, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001.

"Não olhamos para os riscos de forma probabilística, mas de maneira determinística. Se algo perigoso pode acontecer, então temos de restringir o risco de isso ocorrer", explicou Goebel.