Diversificação desafia grandes empreiteiras

November 11, 2013 | Categoria: Engineering

Por Fábio Pupo | De São Paulo

Após executarem uma política intensa de diversificação de negócios responsável por multiplicar suas receitas, os três maiores grupos brasileiros nascidos na construção pesada registraram resultados de maneira instável nos últimos anos. Se em 2010 os lucros somados chegavam a quase R$ 5 bilhões, o resultado anual mais recente mostra uma retração geral na última linha do balanço. Para 2013, o cenário ainda é incerto.

De acordo com os dados financeiros dos grupos Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez - só recentemente divulgados de maneira detalhada - a receita líquida somada dos três grupos cresceu 22% de 2011 para 2012, para R$ 113,7 bilhões. Mas, no mesmo período, os resultados somados passaram de um lucro líquido de R$ 2,1 bilhões para um prejuízo de quase R$ 1 bilhão.

Essa queda foi puxada na maior parte pelo desempenho da Odebrecht, que, mesmo com receita 22% maior, passou de um lucro de R$ 45 milhões em 2011 para um prejuízo de R$ 1,5 bilhão em 2012. É a diversificação que derrubou os números: se analisada somente a área de engenharia e construção, sua atividade original, a Odebrecht veria seu lucro crescer 1,7%, para R$ 934 milhões, conforme dados reunidos pelo Valor Data.

Os números da controlada Braskem, da área petroquímica, contribuíram com praticamente metade da perda do grupo no ano. Foram R$ 732 milhões de prejuízo líquido ao fim de 2012 por parte da subsidiária (segundo a companhia, o desempenho foi afetado pela variação cambial). Em 2013, a tendência é o resultado melhorar. Isso porque a Braskem já registra, até setembro, lucro líquido de R$ 492 milhões. Em igual período de 2012, teve prejuízo de R$ 1 bilhão.

Os números são afetados também por um novo movimento de diversificação: desde 2010, a Odebrecht fundou seis empresas para atuar em setores de concessões de infraestrutura e até entretenimento, as quais exigiriam capital do grupo para investimentos. A subsidiária de energia, por exemplo, ainda deve receber aporte de quase R$ 1 bilhão da holding até 2014.

Para fornecer capital a essas subsidiárias, o grupo usa principalmente o dinheiro oriundo de seu negócio original, a Construtora Norberto Odebrecht, tradicional geradora de caixa. O risco de exposição da construtora às companhias coligadas chega a ser citado pela Fitch Ratings em relatório. Mas, para a agência, é esperado que a redução da exposição financeira, "à medida que os projetos do grupo encerrem seu período pré-operacional e comecem a gerar caixa, diminua a alavancagem do ODB [grupo Odebrecht]".

José Pereira da Silva, coordenador do Núcleo de Estudos de Risco da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV -EAESP), diz que a diversificação do grupos é necessária para diminuir os riscos de seu negócio original. "O segmento da construção civil é muito sensível. Quando se tem governo cortando gastos, sem dinheiro para investir em infraestrutura, o grupo fica limitado, e há toda uma estrutura para manter. É preciso um equilíbrio para manter a estrutura funcionando".

André Marinho e Eduardo Luque, sócios da PricewaterhouseCoopers (PwC), não comentam especificamente cada empresa. No entanto, de modo geral, dizem que as companhias, ao lançarem mão das estratégias de diversificação, diminuíram a dependência política - já que as construtoras dependem bastante da agenda de obras públicas - mas ficaram mais sujeitas às influências de mercado. Isso pode ser visto nas subsidiárias afetadas por variações cambiais (como na Braskem) e por renda da população, por exemplo (como na Alpargatas, da Camargo).

No caso da Camargo, há o mesmo contraste entre resultados de grupo e construtora. A subsidiária de engenharia e construção teve significativa melhoria, com oito vezes mais lucro, para R$ 200 milhões em 2012. No mesmo período, no entanto, o grupo viu seu resultado líquido geral cair 63%, para R$ 312 milhões. É o pior resultado do grupo em sete anos.

Nos dois últimos anos, afetou também o balanço da Camargo a área de construção naval, com o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco. Em 2011, teve mais de R$ 600 milhões de prejuízo da empresa. Antes disso, o grupo já havia passado a reavaliar negócios e acabou vendendo ativos. Foi assim com a Cavo, empresa de saneamento ambiental vendida para a Estre em 2011 por mais de R$ 500 milhões, e com as ações da Usiminas, transferidas para a argentina Ternium por R$ 2,4 bilhões. O diretor de uma consultoria estrangeira que acompanha de perto os grupos, e preferiu não ser identificado, avaliou que é positivo o movimento de "desinvestimento" de negócios menos rentáveis.

Procurados, Odebrecht e Camargo não se pronunciaram.

O grupo Andrade Gutierrez não chegou a ter prejuízo, apesar de uma retração de 80% no resultado líquido. Para a Andrade, o grupo viveu "anos de transformação" após a aquisição da Brasil Telecom pela Oi, entre 2008 e 2010, enquanto o balanço da construtora foi "crescente". Já nos anos seguintes, o cenário se inverteu. Em 2011 e 2012, o grupo teve resultados acanhados no setor original (o lucro da construtora caiu quase 70% em relação a 2011, para R$ 121 milhões), enquanto o melhor resultado veio da diversificação (telecomunicação, energia e estradas).

O diretor-presidente do grupo Andrade Gutierrez, Otavio Azevedo, diz ao Valor que as apostas da companhia estão distribuídas. "Os nossos riscos de performance estão diversificados em setores diferentes", respondeu o executivo a perguntas por e-mail. Segundo Azevedo, no entanto, o ano deve ter um desempenho semelhante ao visto anteriormente. "Está com tendência de manutenção do status quo", afirma ele.

Nos próximos anos, acredita, a maior participação no resultado líquido da companhia virá do setor de construção no mercado privado em Brasil, América Latina e África, além de concessões. "A estratégia do grupo é a de investir em infraestrutura com retorno diferenciado. Sempre olhamos novas oportunidades, como aquelas constantes do poderoso Plano Nacional de Logística [o pacote de concessões] em andamento pelo governo federal", diz Azevedo.

Apesar dos desafios da transição, Marinho, da PwC, diz que o momento é favorável para a diversificação para os grupos de infraestrutura. "Nunca houve tanta abertura para a iniciativa privada ocupar as atividades antigamente feitas pelo governo", diz.