Usinas investem para reduzir o consumo de energia

August 29, 2022 | Categoria: Energy

Responsável por aproximadamente 3% do PIB brasileiro, o setor minero-siderúrgico consome 11% da energia do país, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Cerca de um terço do custo de produção da siderurgia vem da energia e combustíveis”, diz Gileno Oliveira, diretor de engenharia industrial da Usiminas.

Diante dessa realidade, a busca por formas de redução do consumo é questão de sobrevivência para o setor. O esforço vem de diferentes iniciativas, como adoção de novos equipamentos, uso da inteligência artificial, ajustes de processos para reduzir perdas de calor, geração própria e busca de novas matrizes energéticas, como sintetiza Guilherme Frederico Bernardo Lenz e Silva professor do Departamento de engenharia metalúrgica e de materiais da Poli-USP.

As soluções podem vir do outro lado do mundo. Segundo Oliveira, o consumo de energia da planta da Usiminas em Ipatinga (MG) caiu entre 4,5% e 6% em comparação com 2012 - ano em que a empresa enviou uma equipe de técnicos à Nippon Steel, no Japão, à procura de novas tecnologias, equipamentos e processos para ganhar eficiência energética. “Foram 40 dias de aula e visita a instalações”, conta ele. “Desde então, aprimoramos nossos mapas energéticos - todas as etapas da produção têm consumo identificado em detalhes - para identificar perdas e fazer a correções necessárias com modelos matemáticos e inteligência artificial.”

A empresa fechou este ano parceria com a Canadian Solar para a construção de um parque solar fotovoltaico em Luziânia (GO), com investimento, entre as duas companhias, de cerca de R$ 1,35 bilhão. O objetivo é a autoprodução de 30 megawatts médios de energia solar - metade da capacidade do parque - por 15 anos a partir de 2025. Isso será o equivalente a 12% da energia consumida pela companhia. A participação da Usiminas no empreendimento é de 48,5% do capital votante e 24,25% das ações preferenciais.

Em outra frente, a empresa busca reduzir o consumo energético com a substituição de matérias-primas. Para isso, tem como projeto a substituição de parte do sínter de minério de ferro por briquetes, uma mistura de minério de ferro e aglomerantes. Como o processamento da nova matéria-prima ocorre acerca de 200º C, em comparação aos cerca de 1200º C no método tradicional, segundo o diretor, a troca trará economia e também redução de 10% da emissão de carbono nessa etapa do processo de produção e aço. A mudança fará parte do plano de descarbonização da empresa, que deve ser divulgado no fim do ano. “As iniciativas também devem incluir o uso de carvão vegetal e a maximização da utilização da sucata na produção”, afirma o executivo.

As substituições são tendência no setor. “A siderurgia está buscando formas de substituir o carvão mineral por vegetal e de trocar fontes existentes de energia por hidrogênio”, diz Lenz e Silva. “Na Europa há enormes projetos para produção de energia a partir da hidrólise [processo em que o hidrogênio é extraído da água].”

Na Espanha, a ArcelorMittal deve implementar até 2026 um processo que substituirá o gás natural por hidrogênio verde na produção do ferro-esponja, utilizado na obtenção do aço, afirma Erick Torres vice-presidente de operações da companhia. Segundo ele, a iniciativa será replicada no Brasil, como parte da meta global de atingir a neutralidade em carbono até 2050, com corte de 25% até 2030.

“Até 2030, entre as iniciativas a serem desenvolvidas e implementadas pelas unidades da empresa no Brasil estão o aumento da sucata como matéria-prima, a utilização de gás natural e a otimização do uso do carvão vegetal, além da melhoria da eficiência energética dos processos”, afirma Torres.

 

Como é prática no setor, a ArcelorMittal há anos aposta na geração de energia própria a partir de centrais termoelétricas que utilizam gases liberados no processo de produção de aço. O sistema dá autossuficência à usina de Tubarão, no Espírito Santo, com capacidade de produção de 500 MW e consumo entre 400 e 450 MW - diferença que é aproveitada por outras unidades da siderúrgica.

Por Carin Petti — Para o Valor, de São Paulo