Armazenamento de Energia - uma solução para os desafios do Sistema Elétrico Brasileiro
July 01, 2015 | Categoria: Energy
Carlos Augusto Brandão, da Abaque, Artigos e Entrevistas
É uma regra geral: na busca de soluções para qualquer desafio, abrir-se às novas possibilidades e absorver as experiências bem sucedidas são providências de indiscutível efetividade. E, se a máxima é de caráter geral, vale para casos particulares, como a superação das fragilidades do Sistema Elétrico Brasileiro. Estas fragilidades foram acentuadas na conjuntura atual, marcada pela escassez de investimentos, mas estruturalmente derivam da dicotomia existente entre a configuração tradicional do sistema de geração, transmissão e distribuição e as novas demandas do mercado consumidor, que requer energia com segurança, qualidade e a baixo custo.
Assim, no Brasil, além da expansão da oferta, o grande desafio de curto prazo é obter maior estabilidade e segurança do Sistema Elétrico, evitando que as interrupções de fornecimento localizadas se transformem em eventos de grandes proporções (os chamados apagões). Inseridas em um planejamento mais longo, estas providências devem dotar o sistema da flexibilidade necessária para atender às rápidas mudanças no perfil do mercado consumidor, como a introdução de cargas móveis (por exemplo, veículos elétricos) e a inserção de fontes renováveis (solar e eólica), que demandam novas condições de controle de geração e transmissão.
Tanto as demandas imediatas como as de prazo maior requerem a expansão e respectiva gestão da geração em horários de ponta. Além disso, o sistema elétrico precisa ser capaz de fornecer respostas rápidas de alívio da carga, em momentos de aumento abrupto do consumo. No caso da expansão da geração, uma condição essencial é que seja ambientalmente sustentável e de baixo custo, para se configurar como uma efetiva modernização, em linha com as tendências internacionais. Com isso, irá se transformar, também, em variável de estímulo à competitividade da indústria local no mercado externo.
Ambas podem ser obtidas simultaneamente, no curto e médio prazo, com a implantação de inovações tecnológicas que permitem o Armazenamento de Energia (olhar aberto ao “novo”), já estabelecidas há tempos em outros países. Esta solução requer a inserção do consumidor na cadeia de soluções para sistemas de transmissão e de distribuição.
É, portanto, um sistema oposto ao vigente hoje em dia no Brasil, onde os consumidores são caracterizados como agentes passivos e, além disso, penalizados com aumento de custos, via tarifas, em casos de escassez de oferta. Mas é exatamente o sistema já aplicado com sucesso em outros países.
Nos Estados Unidos, a chamada “Demand Response” teve sua precificação instituída pelo ato 745 “Demand Response Compensation in Organized Wholesale Energy Market” (15/03/2011) do FERC, provocando discussão judicial com os geradores. Ainda se introduziu o reconhecimento dos serviços de transmissão por respostas rápidas provenientes de armazenamento de energia para garantir regulação do sistema, de forma sustentável e competitiva, com as resoluções FERC 755 “Frequency Regulation Compensation in the Organized Wholesale Power Market” (20/10/2011) e FERC 784 “Third Part Provision of Ancillary Services; Accouting and Financial Reporting for New Electric Storage Technologies” (18/07/2013).
Como resultado, em 2013 este mercado representou um faturamento de US$ 12 bilhões apenas no submercado da PJM, subsistema da costa leste, com 167 GW de capacidade instalada. Esta movimentação financeira demonstra que já é realidade local ter o consumidor como parte da cadeia produtiva e do processo de prestação de serviços do sistema elétrico. Permite-se, desta forma, o armazenamento de energia com diversas tecnologias, a ser utilizada em momentos de necessidade (picos de demanda, gestão de carga, compensação de geração variável, ilhas de atendimento em condições de falta), favorecendo a qualidade e o custo.
Em comum, todas as soluções têm a capacidade de apresentar respostas precisas e rápidas para as oscilações de frequência e, ao mesmo tempo, permitem a implantação de novas e mais flexíveis formas de gerenciamento do sistema, com redução dos picos de demanda. Além disso, sua implantação e regulamentação asseguram a estabilidade do sistema dentro de padrões sustentáveis, com o objetivo de favorecer a competitividade econômica via redução de custos.
Estudos da California Energy Comission mostram que as tecnologias de Armazenamento de Energia são de 2 a 3 vezes mais efetivas do que uma turbina de combustão com a mesma finalidade. Outro estudo, da Carnegie Mellon University, demonstra que permitem a redução das emissões em 20%, para o caso de CO2, e de 100% para o caso de NOx. Isto porque, sem esta tecnologia, é necessário o aumento de unidades térmicas para compensar as rampas de entrada e saída das fontes solares e eólicas.
No caso do Brasil, é reconhecido que a matriz preponderantemente renovável da é um fator de competitividade da indústria. O entrave, são os custos da energia elétrica. O Armazenamento de Energia permitiria o atendimento simultâneo a estas duas condições, além de favorecer a produtividade, por fornecer respostas rápidas ao aumento de consumo, evitando os “apagões”.
Tanto o aumento da competitividade quanto da produtividade são metas da Agenda Positiva para reativação da economia, que os ministérios da Fazenda e do Planejamento pretendem implantar a partir do segundo semestre de 2015. Além disso, vale lembrar que, em meio à atual crise da oferta, o Ministério de Minas e Energia se manifestou favoravelmente à expansão da microgeração distribuída – a Aneel, inclusive, prepara-se para revisar a res. 482, que permite a conexão do cliente de pequeno porte à rede como fornecedor.
Assim, a pergunta que fica é: porque não olhar além das fronteiras do país, adaptar a experiência internacional, adotar as inovações tecnológicas para o Armazenamento de Energia e criar uma regulação que efetivamente proporcione uma participação mais ativa do consumidor na cadeia produtiva de energia elétrica?