Estudo da EPE estima que capacidade da geração distribuída do país está entre 7 GW e 9 GW
March 06, 2015 | Categoria: Energy
Wagner Freire, da Agência CanalEnergia, Planejamento e Expansão
Consumidores brasileiros podem ter em suas mãos entre 7 GW e 9 GW de potência instalada em motogeradores a diesel ou a gás natural. Esse parque gerador constitui uma importante reserva sistêmica que, se devidamente comprovada e estimulada, pode contribuir em situações críticas de operação do Sistema Interligado Nacional. Os resultados surgem do estudo "Estimativa da Capacidade Instalada de Geração Distribuída no SIN: Aplicações no Horário de Ponta", realizado pela Empresa de Pesquisa Energética, em parceria com o Instituto Nacional de Eficiência Energética, o qual a Agência CanalEnergia teve acesso com exclusividade.
O estudo, que contou com o apoio da agência alemã de cooperação internacional - GIZ, identificou que essa carga de posse dos consumidores pode representar algo próximo de 10% da demanda máxima do SIN. Essa geração estaria impactando a curva de geração do SIN, especialmente no período classicamente definido como horário de ponta, entre 17h e 21h. A EPE, em face da relevância da questão, entendeu oportuno e necessário fazer um diagnóstico da situação, com foco na identificação de um parque gerador distribuído.
O estudo mostrou que os consumidores que estão naturalmente aptos a investir em geração na ponta são aqueles conectados abaixo de 69kV e demanda contratada acima de 300kW. A decisão de realizar investimento em grupos geradores se faz pela comparação entre o custo de aquisição de energia (no horário de ponta) e o custo de autogeração, que compreende remuneração do investimento, despesas de operação e manutenção, e gastos com combustível. Sendo assim, um estímulo para esse consumidor produzir energia fora da ponta tradicional passa pela cobertura de todo esse custo e pela tarifa de energia fora da ponta.
"Embora a tarifa de energia fora de ponta assuma valores bem mais baixos do que a do horário de ponta, pode-se considerar que ela é suficiente para cobrir a remuneração do investimento e os custos de O&M dos grupos de motogeradores. O custo não coberto seria, então, o do combustível", conclui o estudo.
A EPE experimentou um cenário em que a geração distribuída seria de 3.000 MW. Operada por três horas por dia, considerando 20 dias úteis por mês, essa capacidade disponibilizaria ao sistema aproximadamente 250 MW médios (180 GWh por mês), geração equivalente a uma usina térmica de 300 MW operando de maneira contínua com fator de capacidade de 85%. Supondo que essa geração fosse feita a diesel com eficiência típica dos equipamentos disponíveis no mercado (290 L/MWh) e o preço do litro do diesel a R$ 2,41, o preço da energia adicional disponibilizada para o sistema custaria R$ 700/MWh, ao custo mensal total de R$ 125 milhões.
Esse exercício confirmou que o custo dessa geração é bastante alto, sobretudo quando comparado aos preços dos leilões de expansão e mesmo às tarifas finas. Por outro lado, segundo o documento, mesmo com um custo elevado, a disponibilidade de uma capacidade instalada que possa operar em situação de estresse sistêmico pode ser interessante se considerado o custo do déficit, certamente muito mais elevado.
A metodologia utilizada para estimar o potencial levou em conta dados agregados do SIN, obtidos junto ao Operador Nacional do Sistema Elétrico. Tomou-se como ponto de partida a curva de carga anterior ao racionamento de 2001, quando, supostamente, não haveria interferência significativa de geração distribuída. Apesar de levantamentos preliminares confirmarem uma potência instalada superior a 3.000 MW, a metodologia adotada no estudo não permitiu identificar a capacidade exata de geração distribuída por ser baseada em análise de dados agregados.
O estudo não é conclusivo e propõe uma nova análise minuciosa para reduzir as incertezas das estimativas já encontradas. Precisar esse potencial e encontrar maneiras eficientes de estimular o uso desses equipamentos em prol do setor elétrico é o desafio do governo.