GSF: geradores hidrelétricos terão mais um ano difícil em 2015
February 03, 2015 | Categoria: Energy
Carolina Medeiros, da Agência CanalEnergia, Operação e Manutenção
A situação dos geradores hidrelétricos continuará muito difícil em 2015, principalmente no que diz respeito ao GSF. O ano começou com uma hidrologia muito pior que a esperada e a situação dos reservatórios do país está ainda mais crítica. No ano passado, segundo a Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica, o GSF foi menor do que 1 em todos os meses do ano. A PSR estima um GSF realizado de 0,9 em 2014. Somente em dezembro último, os geradores pagaram cerca de R$ 2,8 bilhões a título de GSF, com um fator de ajuste do Mecanismo de Realocação de Energia de 87,9%, o que representa uma redução da garantia física de 5.768 MW médios, de acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica.
O ano de 2015 já começou com um fator de ajuste do MRE ainda mais baixo, de 80,5% em janeiro, segundo as estimativas da CCEE. O montante representa uma redução da garantia física do MRE de 11.449 MW médios, que valorado a um PLD médio estimado para janeiro de R$ 388,48/MWh, resulta em um impacto negativo de R$ 3,309 bilhões para as usinas participantes do MRE. O impacto financeiro só não foi maior, porque o teto do PLD foi reduzido neste ano, caindo de R$ 822,83/MWh no ano passado, para R$ 388,48/MWh. Para fevereiro, a CCEE projeta um fator de ajuste do MRE ainda pior, de 78,4%, com previsão de impacto financeiro de R$ 3,299 bilhões.
Com a possibilidade real de racionamento de energia em 2015, a situação dos geradores quanto ao GSF, segundo especialistas do setor, pode ter dois desdobramentos: o primeiro, com a efetiva decretação pelo governo de um racionamento, e o segundo, com um cenário hidrológico muito complicado, mas sem a legitimidade de um racionamento de energia. Luiz Barroso, diretor executivo da PSR, explica que em caso de racionamento, a maioria dos contratos por quantidade possui cláusulas de redução de racionamento, o que faz com que o montante contratado seja reduzido seguindo a relação entre montante racionado e a demanda.
"Por outro lado, a redução do GSF ocorre seguindo a relação entre o montante racionado e a garantia física das hidrelétricas. A redução do GSF é maior que a redução dos volumes contratuais, fazendo com que persista a exposição ao PLD e, nesse caso, acrescida pela redução de receita no menor volume dos contratos", apontou Barroso. Ele comenta ainda que o saldo líquido dessa conta, em caso de racionamento, depende de qual seria o PLD no racionamento e o montante racionado, além das características individuais de cada gerador.
João Mello, presidente da Thymos Energia, também avalia que o GSF do ano vai depender muito do país viver ou não um racionamento de energia. Para ele, dada a situação hidrológica e a perspectiva de chuvas abaixo da média em fevereiro, assim como ocorreu em janeiro, é difícil escapar de uma situação de racionamento. "Neste cenário, a situação do GSF em 2015 vai ser menos traumática que em 2014, porque os contratos tem uma proteção legal e são reduzidos", analisa. O governo ainda não falou claramente se vai ou não decretar um racionamento. No entanto, na última sexta-feira, 30 de janeiro, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse que estão sendo preparados um conjunto de medidas para incentivar o consumo eficiente de energia elétrica no Brasil. As ações devem ser anunciadas em 60 dias.
Caso o racionamento não ocorra, comenta Mello, da Thymos, o cenário de 2015 será muito parecido com 2014, ou até um pouco pior, com GSF alto e PLD no teto. "Pode ser que os valores sejam menores, porque o PLD está mais baixo, mas o volume em si deve ser muito próximo", estima. O novo teto do PLD foi a solução encontrada pelo governo para, entre outros motivos, aliviar o problema financeiro dos geradores. "Como a situação energética de 2015 será tão ou mais severa que a de 2014, a redução do teto reduz a exposição financeira causada pelo GSF, mas com consequências complicadas em termos de sinal econômico e estabilidade regulatória como um todo", aponta Barroso, da PSR.
Ele afirma que o sistema está desequilibrado estruturalmente e que isso causa o aumento do risco do MRE, independente do valor do teto do PLD a ser escolhido. A PSR acredita que deve ser contratada nova capacidade de forma suplementar para corrigir o desequilíbrio de forma definitiva. "Se São Pedro não ajudar e precisarmos de um choque de demanda para reequilibrar o sistema, seja ela uma racionalização, racionamento, contenção programada de demanda, caracterizando uma situação excepcional, necessitamos de um instrumento legal e regulatório que permita declarar esta como uma situação excepcional, com regras claras para a manutenção do equilíbrio econômico financeiro entre os agentes e consumidores, independente das medidas que eventualmente venham a ser tomadas para a contenção da demanda", diz Barroso.
Flávio Neiva, presidente da Abrage, comenta que, apesar do GSF ser um "risco do negócio", esse conceito não deve ser aplicado nessa situação, tendo em vista a situação hidrológica crítica, os altos valores envolvidos e o comprometimento gradual da capacidade de pagamento das empresas. "Situações como retração econômica e de mercado, despacho de geração termelétrica fora da ordem de mérito, importação de energia, entre outras, não podem ser previstas como risco de negócio", defende.