Recuo na construção civil deve ser o maior desde 1996

August 18, 2014 | Categoria: Engineering

 

Redação – Jornal O Estado de SP

No 2º trimestre, recuo é dado como certo pelo nível de incertezas, juros altos e percepção de risco de racionamento de energia

 

A queda nos investimentos é dada como certa no segundo trimestre do ano, período para o qual um recuo no Produto Interno Bruto (PIB) é cada vez mais provável, como indica a queda de 1,2% no IBC-Br, em relação aos três primeiros meses do ano, divulgada sexta-feira pelo Banco Central.

Dados sobre as indústrias da construção civil e de bens de capital, além das pesquisas de confiança, sugerem que o apetite para investir foi pequeno de abril a junho. A incerteza elevada é apontada como principal problema.

Nos cálculos da LCA Consultores, os investimentos medidos pela formação bruta de capital fixo, componente do PIB caíram 11% na comparação com o segundo trimestre de 2013 e 5% ante o trimestre imediatamente anterior, o quarto consecutivo nessa base de comparação, interrompendo a retomada nos investimentos verificada no ano passado.

Após alta de 5,2% nos investimentos em 2013, a consultoria projeta recuo de 5,9% este ano.

Segundo Bráulio Borges, economista-chefe da LCA, os investimentos são o componente da demanda que mais puxou o PIB do segundo trimestre para baixo. O elevado nível de incertezas, a ação do BC para frear a economia com a alta dos juros e a percepção de risco de racionamento de energia no primeiro semestre derrubaram os investimentos. “Houve tanta discussão sobre a necessidade de ajustes ou tempestade perfeita em 2015 que boa parte disso foi antecipada para este ano”, sugeriu Borges. Ele só vê melhora no quadro após as eleições.

De abril a junho, cresceu a fatia de empresas apontando impeditivos para investir, segundo a Sondagem de Investimentos da Indústria de Transformação, apurada pela Fundação Getúlio Vargas: 49% disseram que há entraves, maior porcentual desde 2009. As incertezas em relação à demanda aparecem no topo da lista, principalmente no caso das indústrias de bens de capital (caminhões, máquinas e equipamentos) e de bens de consumo duráveis (veículos, geladeiras e fogões).

Entre as empresas que pretendem investir, a intenção de substituir máquinas ou equipamentos foi a que mais ganhou força. “Há uma tendência de desaceleração e de piora na qualidade do investimento realizado”, avalia o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de Economia, Aloisio Campelo. É o chamado “investimento por necessidade”, só para manter a produção.

Balanços. Esse comportamento fica claro nos balanços financeiros das empresas abertas divulgados até agora, embora muitas companhias tenham alegado que adiaram, e não cancelaram, seus projetos. “O custo Brasil não permite competir. Só louco investe no Brasil”, disse, na terça-feira, o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Benjamin Steinbruch.

A CSN em si não cortou investimentos. Ao divulgar o balanço, a empresa reafirmou a projeção de investir neste ano R$ 2,8 bilhões. Também no ramo siderúrgico, a Gerdau anunciou no fim do mês passado o fechamento de sua unidade em Sorocaba e, em seguida, a redução dos investimentos deste ano, de R$ 2,9 bilhões para R$ 2,4 bilhões. “Essa redução do desembolso é um pouco frente ao cenário, com pouca visibilidade”, disse o diretor de Relações com Investidores da Gerdau, André Pires.

A mineradora Vale e a Petrobrás, duas das maiores empresas do País, também investiram menos no segundo trimestre. A primeira investiu US$ 2,469 bilhões, queda de 28,3% em relação ao mesmo período do ano passado, excluindo pesquisa e desenvolvimento e aquisições.

No caso da Petrobrás, os investimentos somaram R$ 41,499 bilhões no primeiro semestre, 6% abaixo do mesmo período de 2013.

 

“O que vemos agora é uma desaceleração contínua. Estamos no estágio final de um processo de piora dos últimos quatro anos. Nesse sentido, empresas estão pensando não só em não investir, mas em encerrar turnos de trabalho e até em fechar fábricas”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, ao comparar o quadro atual com o da virada de 2008 para 2009, ápice da crise econômica mundial.