Infraestrutura já cria mais empregos do que construção civil

September 12, 2012 | Categoria: Engineering

Marcelo Rehder - O Estado de S.Paulo

Pela primeira vez em muitos anos, a contratação de pessoal em obras de infraestrutura é o dobro do observado na construção civil. Nos 12 meses terminados em julho, as obras em infraestrutura abriram 92,3 mil postos de trabalho formais em todo o Brasil, enquanto a construção civil criou 43,1 mil vagas.

Outros 45,1 mil postos foram gerados em serviços de construção, totalizando 180,5 mil empregos com carteira de trabalho assinada no setor da construção.

"É uma sinalização positiva, especialmente por causa da política de concessões do governo, de um setor que começa a entrar em 2013 e, principalmente, 2014 com potencial de emprego relativamente bom", diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Ele fez o estudo sobre o mercado de trabalho na construção com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego.

A retomada do emprego em infraestrutura está sendo mais intensa nas obras de energia elétrica, telecomunicações, água, esgoto e transporte por dutos. No período de agosto de 2011 a julho deste ano, foram criados 31.282 empregos nessas áreas, o que representou um salto de 873,9% em relação aos 3.212 postos abertos nos 12 meses anteriores.

Na construção de rodovias, ferrovias, obras urbanas e obras de arte especiais, o crescimento entre os dois períodos foi de 176,3%, de 7.417 para 20,496 novas vagas. Outras obras de infraestrutura abriram 40.549 postos nos últimos 12 meses, contra 16.178 no período anterior - alta de 150,6%.

"Os dados de infraestrutura sugerem tendência positiva que deve aumentar pelo potencial dos pacotes de investimentos lançados a partir de agosto pelo governo", ressaltou Vale.

No dia 15, o governo lançou a primeira etapa de um novo pacote de concessões para incentivar investimentos na infraestrutura do País. Essa primeira fase do chamado Programa de Investimentos em Logística prevê aplicação de R$ 133 bilhões na reforma e construção de rodovias federais e ferrovias.

Os contratos estão previstos para 2013. Por enquanto, as contratações começam a acelerar, principalmente, conforme o andamento das obras de infraestrutura para a Copa de 2014.

Ao mesmo tempo em que aumentou o ritmo nas obras em infraestrutura, a criação de emprego desacelerou na construção civil. Depois de ter criado 111.792 postos de trabalho entre agosto de 2010 e julho de 2011, o setor abriu só 43.118 novas vagas nos últimos 12 meses, o que representou queda de 61,4% no ritmo de criação de emprego.

"O ritmo diminuiu porque a economia desacelerou", disse Vale. "A construção civil teve um boom no passado recente e é natural que, depois de dois anos de crescimento econômico muito baixo, o setor acabe desacelerando também", acrescentou.

O presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), Rodolpho Tourinho Neto, disse que o setor de obras em infraestrutura vive uma situação de quase pleno emprego. "O País nunca teve volume de obras igual a esse, com grandes concentrações de operários", frisou. "Isso é muito bom, mas, de certa forma, dificulta a contratação, pois há escassez de mão de obra qualificada e o volume de projetos em execução facilita a mobilidade dos operários de uma obra para outra."

"Não é nem mão de obra qualificada que está faltando. Hoje, falta mão de obra para qualificar", disse o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores na Indústria da Construção Pesada, Wilmar Gomes dos Santos. Ele lembra que, nos últimos oito anos, quando os projetos de investimentos em infraestrutura começaram a sair do papel, o número de trabalhadores com carteira assinada do setor saltou de algo como 1,5 milhão para quase 6 milhões.

O Programa de Qualificação Profissional Continuada - Acreditar é um exemplo da realidade atual. "Estive lá há dez dias. A gente não tem mais quem treinar na região", contou Tourinho. Desde fevereiro de 2011, segundo ele, 4,5 mil pessoas foram capacitadas para o trabalho.

O programa foi implementado pela construtora Odebrecht, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, na usina hidrelétrica Teles Pires, que está sendo construída na fronteira dos Estados do Pará e Mato Grosso,

"A questão da formação e qualificação de pessoal é o que mais nos preocupa, porque é estrutural", disse o presidente do Sinicon. "Estamos preparando um grande programa, visando a ganhos de produtividade, mas sobretudo à formação desse pessoal todo." Ele ressaltou, porém, que o cenário de pleno emprego não se traduziu em ganhos para o conjunto dos trabalhadores. "Continuamos com baixíssimos salários, desigualdades regionais e precariedade como condição predominante no setor."