Atraso em térmicas também vai elevar custo da conta de luz

August 30, 2012 | Categoria: Energy

Por Daniel Rittner | De Brasília

Mesmo em um cenário de economia desaquecida e com baixo risco de déficit de energia no curto prazo, os seguidos atrasos na construção de usinas térmicas da Bertin e a demora na entrada em operação de um parque eólico na Bahia deixarão as contas de luz mais salgadas. Para evitar sobressaltos no abastecimento, o volume de água armazenada nos reservatórios de hidrelétricas deverá ser mantido em nível acima do que estava originalmente previsto, principalmente no Nordeste.

O nível mínimo dos reservatórios, para evitar riscos no fornecimento, foi aumentado ontem pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O resultado disso, segundo especialistas no setor, é que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) precisará agir com mais cautela, acionando usinas termelétricas - que têm tarifa maior - para economizar água dos reservatórios.

O nível mínimo dos reservatórios do Nordeste estava em 30% para o fim de agosto, 24% em setembro, 17% em outubro e 15% em novembro. A pedido do próprio ONS, a agência resolveu aumentar o que chama de "curva de aversão ao risco". O patamar de segurança subiu para 45% no fim de agosto, 37% em setembro, 28% em outubro e 25% em novembro.

Nas projeções da Abrace, a associação que reúne grandes consumidores industriais de energia, essa revisão provocará um aumento de 20% a 30% do ESS (encargo cobrado nas contas de luz para pagar o acionamento das usinas térmicas). Até julho, a arrecadação com ESS alcançou cerca de R$ 650 milhões. A estimativa é que o recolhimento mensal do encargo, na faixa de R$ 80 milhões, ultrapassará a barreira de R$ 100 milhões enquanto usinas mais caras tiverem que ser ligadas para aliviar os reservatórios das hidrelétricas.

O ESS é repassado para as tarifas de energia, tanto dos consumidores de baixa tensão (residências e escritórios) como da indústria. "O fato é que o atraso das térmicas da Bertin e das linhas de transmissão das eólicas está chegando à conta dos consumidores", disse o presidente da Abrace, Paulo Pedrosa. Em nota técnica, a agência atribuiu as mudanças ao atraso em oito usinas térmicas da Bertin. Também mencionou, indiretamente, o caso do complexo eólico Alto Sertão I, no semiárido baiano. Com 294 megawatts (MW) de potência instalada, o complexo ficou pronto em julho, mas só vai gerar energia a partir de 2013 porque as linhas de transmissão que o conectam ao sistema interligado nacional - de responsabilidade da estatal Chesf - atrasaram.

Além de alterações no nível de segurança dos reservatórios do Nordeste, houve ajustes ainda nas hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, embora de forma bem menos acentuada.

A Abrace destacou que as mudanças propostas pelo ONS eram muito mais fortes. No Nordeste, a proposta do ONS era ajustar o nível mínimo dos reservatórios para 50% no fim de agosto, 41% em setembro, 32% em outubro e 28% em novembro. Se tivesse sido acatada pela Aneel, "era muito grande o risco de o nível de armazenamento no Nordeste cruzar a curva e, com isso, as térmicas com custo muito elevado serem despachadas (acionadas)", disse Pedrosa.